Guernica 3D – Picasso na era digital
9 - fevereiro - 2009 at 12:18 Lucas Bandeira 5 comentários
Lucas Bandeira
Estamos acostumados a adaptações de romances para o cinema, de peças para a ópera, até de exposições para suítes musicais (como a maravilhosa Pictures at an exhibition, de Modest Mussorgsky, em que o compositor simula um passeio pela exposição de Viktor Hartmann; aqui, por exemplo, as “Catacombes“).
Nesses casos, é claro, quando muda o suporte ou “a arte”, é criada uma nova obra de arte. Mas e quando uma especialista em computação gráfica nos permite caminhar entre as figuras destroçadas de Guernica, painel de Pablo Picasso “sobre” (entre diversas aspas) o bombardeio à cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola?
Primeiro, vamos ao vídeo, produzido em 2008, em que passeamos pela representação em três dimensões do quadro, produzida por Lena Gieseke:
Primeiro, é inegável, mesmo para quem é purista, que o efeito é incrível, a imersão na obra é deliciosa e angustiante. Mas também é muito infiel à obra, sem no entanto abandoná-la por um momento. É infiel porque acaba com o grande efeito do painel, que é a simultaneidade. Picasso nos mostra ao mesmo tempo os fantasmas e destroços da humanidade produzidos pela guerra. Na reprodução 3D, o que salta são os detalhes, o olhar desesperado, uma forma monstruosa, não a totalidade.
A própria autora (ou artista) da representação pergunta se é uma nova obra ou apenas uma maneira de explorar a Guernica, e eu não consigo outra resposta a não ser: é e não é uma nova obra. Com a palavra, Gieseke:
Meu modelo é uma reconstrução verdadeira da pintura de Picasso, ou apenas uma revisualização grosseira? Ainda é a arte de Picasso ou, pela minha adição da terceira dimensão, tornou-se algo completamente diferente? Não é meu papel responder a essas questões nem determinar a relação entre minha reprodução tridimensional e a pintura original.
Arte ou não, seu valor começa ao aproximar a tecnologia da arte, sem didatismo, hermetismo ou euforia.
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1. l.c | 9 - fevereiro - 2009 às 18:13
Uma artista, sem duvida.
A animação está incrivel
Quem teve o prazer de ver o quadro/painel, sabe que ele é pra ser visto em pedaços mesmo, pois alem do impacto inicial do tamanho (eu nao tinha essa nocao) as particularidades mostradas no 3D acimas , sao fodas.
Uma bela descoberta essa sua, parabens.
2. Olívia Bandeira | 10 - fevereiro - 2009 às 11:45
Gosto muito dessas “releituras” ou seja lá o que for. Assistir à animação em uma tela grande, numa sala escura, deve ser incrível.
3. leoc. | 11 - fevereiro - 2009 às 10:55
genial. me deixou bobo. concordo com o LC, apesar do principal efeito do painel ser o impacto da simultaneidade, nos detalhes se revela a “alma” da obra. com volume, então, elas saltam aos olhos, se tornando ainda mais palpáveis.
4. KID | 13 - fevereiro - 2009 às 20:48
Gostei muito da “nova obra” apresentada pela autora da animação, sempre apoiei o uso da tecnologia como uma forma de arte, acabando com aqueles infindáveis zeros e uns.
Concordo com a opinião do LC, de que é e ao mesmo tempo não é uma nova obra, tendo em vista que no passeio em 3D, é possível à “nova autora” dar mais foco ao que ela desejar, ou seja, foge um pouco à proposta da obra que é a impressão de Caos angustiante.
Gostei da proposta, já me imaginei passeando em 3D pelos campos de Tulipas do Monet ou pelas suítes surralistas do Dali.
5. Debret e poesia em releituras animadas « O Caroço | 1 - março - 2009 às 15:42
[…] foi postada neste blog a animação em 3D do quadro Guernica, de Picasso (veja aqui). No post, Lucas chama a atenção para a nova obra que surge quando a famosa pintura sobre a […]